Tenho estado sem estar,
quieto, de uma quietude que já não me conhecia, invariavelmente tudo voltará a ser o que tiver de ser. Este estado de anormalidade em que pautam os dias actuais revelam-se ser, o Ser que não se foi. Houveram liberdades que não se souberam integrar, usufruir, viver. Por estes dias, quero estar só com a liberdade que só a solitude conforta. Um habitar sem existir para o mundo. Em quarentena o mundo torna-se vasto no mistério de algo que se propaga sem se ver. Por estes dias apenas o sentir é de quem se sente. Já não há toque que afague o embalo das palavras, agora e cada vez mais parcas, neste estado de estar, sem se estar. 02 Maio/2020 ©Rui de Almeida Cardoso Acredito que a partilha é das coisas mais saudáveis que podemos ter enquanto seres humanos. Há vários tipos de partilha, mas é da partilha do Ser quem somos a que me refiro, sermos a nossa diferença e unicidade, neste todo em que se vive. Sermos Um, mas um no diferente, logo especial e original. Contudo, estarmos em sociedade e viver desta, é ser-se mais normal do que original. Aprecio visceralmente o termo natural. Observemos mais a sabedoria intrínseca da natureza.
Observo nos últimos anos um excesso de partilha do ego e pouca naturalidade, tudo hoje é filtrado para que gostos e visualizações sejam sinónimo de sermos gostados, apreciados, reconhecidos. Vemos o mundo através de algoritmos e acreditamos que esta é a realidade, ou será a ilusão que cada um cria à sua imagem? Cada um, a seu jeito, tenta colmatar o vazio da dor existencial deixado pela crua realidade de que em 3 gerações deixaremos de existir. A norma das pessoas será esquecida, e o nosso ADN sabe disso. Somos o animal que mais consciência tem da sua finitude, mesmo assim desde que nascemos nos pedem, ou exigem, para sermos a norma, sermos mais um, para diluirmos o nosso Self na homogenização social. Ser-se igual, é ser apenas e mais um. Um dos muitos que se pode controlar ao sabor do que os estados ou sociedades querem, ou precisam, para servirem os interesses do um poder maior do que a soma da partes. Estamos a deixar de ser pessoas para sermos anonimamente o resultado de uma sociedade numérica, vazia e estéril de vida pulsante, contudo acredito que cada um tem para si o poder de se libertar destas amarras. Usemos mais o coração e menos a comparação. Usemos mais o corpo e menos a ilusão de que a mente comanda a vida, pois essa comanda-se a si própria. Viver é Ser-se livre da prisão dos pensamentos ruminantes que nos prendem ao chão e nos pesam a existência. Um abraço sonoro Rui de Almeida Cardoso |
Coisas que podem interessar...Histórico
Outubro 2023
Categorias |